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6 de setembro de 2018

Uma facada na campanha


Jair Bolsonaro após ser esfaqueado durante uma campanha em Juiz de Fora, Minas Gerais (Foto: Raysa Leite/AFP)
O atentado bárbaro e covarde contra o deputado Jair Bolsonaro, primeiro colocado nas pesquisas, a um mês do primeiro turno da eleição presidencial mais turbulenta em décadas, deixa a nação perplexa e indignada.

O esfaqueamento teve, ao que tudo indica, motivação política. O homem que confessou o crime foi filiado por sete anos ao PSOL e, nas redes sociais, não escondia a simpatia por ideologias esquerdistas, nem a antipatia por Bolsonaro.

O desvio psíquico que leva alguém a transformar o ódio político que despeja nas redes sociais num ato concreto de violência é tema para discussões acadêmicas. As investigações dirão se o criminoso agiu por conta própria. O que importa, neste momento difícil, é antes de tudo o pleno restabelecimento de Bolsonaro, hoje um dos políticos mais populares do país, e o conforto a seus familiares e amigos.

Em seguida, é essencial que a campanha eleitoral transcorra num clima pacífico. Qualquer democrata digno do nome tem o dever de repudiar a violência em todas as suas manifestações. Contra quem quer que seja. Sem nenhum tipo de qualificativo. A maioria dos adversários de Bolsonaro na corrida pelo Planalto se manifestou de modo correto e solidário nas redes sociais.

Ainda é prematuro inferir do atentado qualquer tipo de efeito na opinião do eleitor. Num primeiro momento, a comoção deverá elevar a simpatia por Bolsonaro, e também sua popularidade, mesmo entre aqueles que resistiam a apoiá-lo. Difícil dizer quanto isso durará.

De todo modo, a partir de hoje o Brasil estará diante de um novo quadro eleitoral. Todas as análises, pesquisas de opinião e previsões feitas até a tarde de hoje devem estar sujeitas a revisão. Doravante, as estratégias de campanha serão outras, o sentimento do eleitor será outro.

Tragédias inesperadas já tiveram consequências determinantes na política brasileira. O assassinato de João Pessoa foi um dos estopins da Revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas ao poder. A tentativa de assassinato contra Carlos Lacerda, em 1954, acabou por desencadear o suicídio do próprio Getúlio.

Tragédias também podem ter efeitos passageiros. Mais recentemente, o acidente aéreo em que morreu o então candidato a presidente Eduardo Campos mobilizou o país por alguns dias, mas não teve reflexo político duradouro depois da eleição.

Crimes políticos se destacam entre os índices de violência absurdos do Brasil. Um levantamento recente do jornal O Estado de S. Paulo, feito em março, por ocasião do assassinato da vereadora carioca Marielle Franco, estimou em quase 1.400 os homicídios dessa natureza desde a Lei da Anistia em 1979. Só nos últimos cinco anos, houve perto de 200.

É fundamental que o atentado contra Bolsonaro sirva não para acirrar ainda mais a disputa que racha o país ao meio. Mas que seja um alerta para o risco de que a violência das palavras se transforme, na disputa polarizada que testemunhamos no dia a dia, em violência de fato.

O autor do atentado precisa ser punido nos termos da lei de modo célere. A campanha e a eleição precisam seguir adiante em clima de liberdade e tranquilidade. É inaceitável que a maior conquista da nossa democracia – eleições livres e diretas para presidente e para os demais cargos eletivos – seja manchada pela ideologia abjeta de quem quer destruí-la pela violência.


Por Helio Gurovitz / G1

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